“Uma Ferrari com o freio de mão puxado”. Foi dessa maneira que o presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), José Carlos Martins, se referiu ao desempenho do setor da construção em 2021.
A afirmação tem base na revisão positiva do crescimento e alta da construção civil para 2021, que havia sido revisado para baixo em março e, em julho, foi novamente revisado para cima. Com isso, a expectativa da entidade é de que o crescimento seja de 4% ao final do ano, o maior desde 2013, quando a alta foi de 4,5%.
Outro indicador que apresentou alta expressiva foi o ICST (Índice de Confiança da Construção), do FGV Ibre. Foram 3,3 pontos de alta em julho, chegando a 95,7 pontos, maior nível desde março de 2014. O resultado é animador especialmente porque em junho a alta sobre o mês anterior já havia sido relevante, de 5,2 pontos. Se considerarmos os números do ano anterior, então, o resultado é ainda mais expressivo.
Os motivos para o otimismo residem nos resultados do primeiro semestre. Em junho, por exemplo, o setor registrou o melhor desempenho no nível de atividade desde setembro do ano passado. Foram 51 pontos em junho contra 51,2 em setembro, mas não é só isso. O resultado foi o melhor junho desde 2011 e superior à média histórica, de 45,6 pontos. Os números são da Sondagem da Indústria da Construção, elaborada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria), com apoio da CBIC.
“A sondagem de julho aponta o crescimento da atividade e uma percepção bastante favorável em relação à evolução da demanda nos próximos meses. Ou seja, volta a prevalecer um cenário levemente otimista. Se no segundo semestre de 2020, a alta dos custos contribuiu para derrubar a confiança, em 2021, esse efeito foi atenuado. Não porque tenha ocorrido queda ou redução no ritmo dos aumentos – o quesito custo da matéria-prima assumiu pelo segundo mês a primeira posição entre os fatores limitativos à melhoria dos negócios. Ocorre que o percentual de assinalações que apontam o aumento dos preços praticados pelas empresas também alcançou um recorde histórico, sugerindo que, apesar dos desarranjos que os aumentos dos custos têm causado, as empresas esperam que esses aumentos sejam absorvidos em grande parte pela demanda final”, avaliou Ana Castelo, Coordenadora de Projetos da Construção do FGV IBRE.
Freio de mão
Tanto quanto a alta dos preços dos insumos, a falta de previsibilidade sobre a disponibilidade de materiais é o que mais preocupa o empresariado da construção, acredita Ieda Vasconcelos, economista da CBIC. “Hoje, o principal fator que está impedindo o avanço das atividades do setor é o alto custo e a falta da matéria-prima. As empresas não sabem quando e por quanto terão os materiais”, explica.
Nesse sentido, a CBIC entende que é urgente conseguir a isenção das tarifas de importação de aço. “Se tivermos zerada a tarifa de importação, o preço será mais atrativo e, além disso, melhoramos a questão do prazo de entrega para que não seja de 90 a 100 dias, como é agora, mas de 10 dias, como era anteriormente”, analisa. De acordo com a economista da CBIC, o setor precisa de um choque de oferta. “Nosso pedido é para atender à demanda porque a oferta não está suficiente. Com o choque podemos ter pelo menos uma estabilização dos preços, pois há 13 meses o setor sofre com reajustes expressivos e aumentos dos prazos de entrega”, explica.
Outra reinvindicação da CBIC diz respeito ao aumento do teto dos valores do Programa CVA (Casa Verde e Amarela). Ieda explicou que, com os limites atuais, a faixa que atende a famílias com renda mais baixa, de até 3 salários-mínimos, não proporciona margem suficiente para as construtoras. “Precisamos que isso seja equacionado para que o setor consiga voltar a produzir para essas faixas de valores e atender essa população”, explica.